segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Tempero bem embalado

A Companhia das Ervas conquista paladares no exterior com especiarias e conservas exóticas.

Pesquisa de novos produtos, rigor com a qualidade e escolha de embalagens capazes de agregar valor ao conteúdo. Com essa receita, a Companhia das Ervas, fabricante paulista de especiarias e conservas, além de se firmar no mercado nacional, está conseguindo conquistar paladares de americanos, australianos e uruguaios. Em 2000 exportou quase 10% do faturamento, que beirou R$ 3 milhões, e projeta para 2001 um crescimento de 15% nas vendas no Brasil e de mais de 100% no mercado externo. "Os Estados Unidos são os nossos maiores importadores", diz Marcelo Cury, economista e sócio da empresa de 62 funcionários localizada em Morungaba, a 30 quilômetros de Campinas, interior de São Paulo.

Com uma linha de 88 variedades de condimentos (de hortelã a alecrim, de tomilho a manjericão e orégano), de mais de 30 tipos de pimenta e de uma criativa coleção de antepastos e geléias exóticas (feitas de gengibre, açafrão, pimentão ou menta), a empresa tem seus produtos vendidos em lojas das redes Pão de Açúcar, Bompreço e Sendas, delicatessens e casas de gastronomia de quase todos os estados brasileiros. Exporta com marca própria, e seus rótulos e embalagens – os condimentos, por exemplo, são envasados em recipientes similares a tubos de ensaio – começam a ser reconhecidos em supermercados de Los Angeles e San Diego, na Califórnia, conta Cury. "Agora estamos em negociação também com a rede de 24 lojas da Sedanos, na Flórida."

O caminho para o mercado norte-americano foi aberto na Feira Anual de Alimentação de São Paulo (Fispal), em junho de 1999, quando o estande da Companhia das Ervas foi visitado por um distribuidor norte-americano que gostou do que viu. A visita aconteceu na hora certa. Alguns meses antes, seus dois sócios – o outro é Marcos Cury, irmão de Marcelo – haviam começado a preparar os produtos para exportação.

Numa viagem de turismo aos Estados Unidos, em janeiro de 1999, Marcelo bateu à porta da filial do Departamento de Estado, em San Diego, em busca de informações sobre a regulamentação para a exportação de produtos alimentícios ao mercado norte-americano. Voltou com três apostilas na bagagem, que explicavam desde o que deveria figurar nos rótulos – em inglês, naturalmente – até como fazer para registrar os produtos na Food and Drug Administration (FDA). Todas as exigências foram atendidas. A mais cara da lista foi a exigência de análises de cada produto por um laboratório credenciado pela FDA. O laudo, que obrigatoriamente deve acompanhar as remessas, custa atualmente R$ 200.

O serviço foi encomendado ao Instituto de Tecnologia de Alimentos de Campinas (Ital), credenciado pela agência norte-americana. "Não tivemos nenhuma dificuldade no envio das amostras, até porque nossos produtos não contêm conservantes nem agrotóxicos", explica Marcelo Cury.

Parte dos insumos é cultivada em estufas, num sítio próprio, próximo à fábrica, onde só é utilizado adubo orgânico. Essa produção, porém, não garante a auto-suficiência. Além de comprar de terceiros, a empresa importa quase 30% dos itens envasados, entre eles orégano, açafrão, baunilha e curry. (A necessidade de importar para exportar fez com que o valor exportado em 2000 empatasse com o das importações.)

A busca prévia pela autorização da FDA facilitou o contato com o distribuidor norte-americano. Afinal, faltava apenas providenciar os rótulos em inglês: "herbs and spices", no lugar de "ervas e especiarias".

A apresentação dos produtos nas lojas – em displays de ferro ou madeira, produzidos na fábrica de Morungaba – é a mesma no Brasil e nos Estados Unidos. Os suportes e as embalagens diferenciam e destacam os produtos. Na Austrália, os condimentos e conservas da Companhia das Ervas têm feito sucesso na rede de 170 lojas dos supermercados Cols.

Mais do que um detalhe, a apresentação dos produtos parece ser uma obsessão estética. As pimentas são empilhadas em mostruários de vidro que alternam cores e ganham formas esculturais. A idéia da embalagem em formato de tubo de ensaio surgiu numa visita de Marcelo Cury à fábrica de injetoras Mannesmann. "Vi os moldes de PET que, depois de soprados, se transformam nas garrafas de Coca-Cola, e eles me lembraram esses tubos de ensaio."

Ele não teve dúvidas: experimentou o molde para envasar os condimentos, gostou do resultado e acabou desenvolvendo, em parceria com uma pequena injetora do município vizinho de Atibaia, um frasco de formato similar, só que com um terço do material utilizado no modelo original. "O recipiente ficou mais bonito, mais leve e mais barato", diz. A cada mês, são vendidos 30 mil tubinhos com os condimentos.

Criativa, a empresa está conseguindo levar aos novos mercados até mesmo sua estratégia de promoção. Assim como no Brasil, o consumidor que compra um determinado número de frascos de ervas ou conservas ganha um brinde – um suporte de madeira para colocar os tubos de condimentos ou o livro de receitas Os "druidas" na cozinha. Feito pela própria Companhia das Ervas e inspirado na cultura desses sacerdotes celtas – que usavam ervas tanto para fins culinários como de cura e de bruxaria –, o livro passou a ser editado em inglês e acompanhará os frascos vendidos nos Estados Unidos e na Austrália.

Em 2000, 50% das exportações foram para os Estados Unidos, 40% para a Austrália e 10% para o Uruguai. Este ano, os sócios planejam vender também para Argentina – entre os itens estão sais temperados para churrasco –, França e Alemanha.

Essa história de sucesso começou no início dos anos 90, num bar de Campinas, onde Marcos Cury reunia-se semanalmente para beber com os amigos. Insatisfeito com a qualidade dos molhos oferecidos para temperar os petiscos, passou a levar de casa um vidro com um blend de pimentas, preparado por ele mesmo, que os garçons deixavam no balcão. O visual colorido e charmoso atraiu outros fregueses, que passaram a encomendar a Marcos aquela especiaria.
Bom gourmet, não teve dificuldade de ampliar a linha de temperos e conservas. Quando resolveu instalar a fábrica em sociedade com o irmão, escolheu Morungaba, tanto pela proximidade de Campinas quanto pela fartura de mão-de-obra e qualidade de vida. Em 1994, nascia a Companhia das Ervas.

Os temperos e conservas são hoje desenvolvidos na cozinha experimental da empresa, comandada pelo filho de Marcos Cury, Cláudio, chefe de cozinha formado pelo Senac. Uma novidade é a geléia de açafrão, insumo caro e importado da Europa. Produtos como esse passaram pelo teste de alguns renomados chefes de cozinha do País, entre eles o francês Émmannuel Bassoleil, que pilota na capital paulista o restaurante Roanne e o bar Azucar, especializado em pratos da culinária latino-cubana. "Os produtos da Companhia das Ervas reúnem padrão de qualidade e são adequadamente cultivados", diz Bassoleil – ele elogia as geléias de gengibre e de pimenta, que pincela sobre steaks de frango.


Fonte: Câmara Américana do Comércio.

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