segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Opinião - Eleição, frustração e alegria - José Aparecido Miguel

O resultado eleitoral de domingo passado motiva espanto, frustração, alegria e esperança, contrastes presentes na sociedade brasileira. Houve tempo em que o eleitor escolheu "Cacareco", um rinoceronte, lembram-se os mais velhos. Há outros casos, como o do "Macaco Tião", no Rio de Janeiro. Agora assistimos a eleição do caricatural, histriônico Enéas Carneiro para a Câmara Federal, com mais de 1 milhão e 556 mil votos, um recorde histórico.

Sua mensagem é simplesmente o bordão "Meu nome é Enéas", o título de médico e a pretensa genialidade que esconde uma personalidade autoritária, chegada a uma bomba atômica e avessa à democracia que, contraditoriamente, o coloca no palco de Brasília.

Não foi à toa que Enéas criou, em 1989, o Partido de Reedificação da Ordem Nacional, o Prona. Sua votação, pelo cálculo da proporcionalidade, garante ao Prona mais cinco deputados federais, um deles, o homeopata Vanderlei Assis com ínfimos 275 votos. O discurso de Enéas é um primor de ofensa a milhares que o elegeram. Para ele, seu partido é o dos escolhidos, os melhores, os inteligentes; não dos semi-analfabetos ou analfabetos funcionais, como ele mesmo define.

A candidata a deputada estadual Havanir Nimtz, "meu nome é Havanir", foi a mais votada do Estado de São Paulo com aproximadamente 679 mil votos, levando consigo políticos praticamente desconhecidos. Havanir já exerce mandato parlamentar pelo Prona. É vereadora em São Paulo. E não há nada de especial que a tenha destacado.

A escolha de tipos como Enéas e Havanir, e há também gente eleita por ser filho de radialista etc., deveria motivar a atenção da classe política. Ela esconde uma descrença em políticos que se apresentam com promessas incabíveis ou que não são sérios. Mas pode crer que existe político sério, preocupado em contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Vale destacar que fora das soluções políticas só existe o fascismo, o nazismo, a mudez e o medo contra o diálogo democrático. Idiota político, já escreveu um pensador, é aquele que esquece que o preço do pãozinho e a lei que nos rege nascem das decisões políticas.

Para que a frustração não aumente, resta torcer para que o Prona se limite e seja limitado ao próprio folclore – à graça que não tem - pelas forças políticas sérias do País.

Mesmo assim, esta eleição dá motivo para a alegria. O eleitorado está mais atento. Gente competente, séria, também foi escolhida. Outros políticos, como Fernando Collor, Paulo Salim Maluf e seu ex-discípulo Celso Pitta, foram riscados do mapa. Por enquanto... Foi você, eleitor, quem decidiu. É você quem escolherá dia 27 de outubro o próximo Presidente da República, entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB). Pense bem para não se frustrar.


O Morungaba, 8 de outubro de 2002. Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”. 

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