segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Opinião - As (in) verdades da guerra - José Aparecido Miguel

O doutor em geografia humana pela Universidade de São Paulo e editor do jornal "Mundo Geografia e Política Internacional", Demétrio Magnoli, escreveu um artigo importante sobre a guerra anglo-americana e mais um punhado de australianos contra o Iraque do ditador Saddam Husseim: "há uma guerra na mídia global e outra no Iraque. Olhe para as imagens como uma seleção parcial da realidade. Desconfie de todas as notícias. Boatos e rumores sobre morte, ferimento ou fuga de Saddam Hussein, seus filhos e altas figuras do regime podem ser verdadeiras, mas provavelmente são plantadas. A ofensiva da informação está em curso". Na opinião de Demétrio Magnoli, George W. Bush não está preparado para uma guerra de verdade. "Suas forças vencerão no teatro militar do Iraque, mas serão derrotadas no campo de batalha político das cidades árabes, européias e norte-americanas. Daqui para a frente, todas as manobras táticas americanas estarão voltadas para evitar esses desdobramentos. Inclusive o noticiário da mídia global".
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O jornalista Robert Fisk do "The Independent", dos Estados Unidos, escreveu que os EUA estão mais uma vez utilizando munições de urânio enfraquecido no Iraque, como fizeram em 1991. "(...) Fuzileiros navais americanos tinham convocado um avião A-10 para combater "bolsões de resistência" - mais um exemplo de jargão militar empregado pela BBC -, mas deixou de mencionar que o A-10 usa munição de urânio enfraquecido. Assim, estamos espalhando aerossóis de urânio em explosões em campos de batalha no sul do Iraque, e ninguém está nos informando disso. A história iraquiana não será completa sem uma nova história de "martírio" na batalha do país contra forças estrangeiras de ocupação". Fisk comenta que a guerra vai durar mais tempo que o previsto. "É claro que tudo talvez não passe de erro de cálculo. É possível que o castelo de cartas iraquiano seja mais frágil. Mas a guerra rápida e fácil, o conflito do "choque e pavor" - a frase utilizada pelo Pentágono é um slogan tirado das páginas da revista nazista "Signal" - já não parece ser tão realista assim. As coisas estão dando errado. Não estamos dizendo a verdade. E os iraquianos estão se beneficiando disso". A BBC é a rádio estatal do Reino Unido.
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O presidente George W. Bush já não sabe mais sobre a duração da guerra, que seria rápida e "cirúrgica". Pediu 74 bilhões e 700 milhões de dólares para gastar com a guerra e a "reconstrução do Iraque".
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O brilhante jornalista brasileiro Elio Gaspari, que publica seus artigos em importantes jornais brasileiros, escreveu que "George W. Bush conseguiu ressuscitar o espírito da civilização européia, e o mundo lhe será grato por isso. Infelizmente, está estimulando o antiamericanismo do Terceiro Mundo e, com ele, o de Pindorama", como apelida o Brasil. "O antiamericanismo tem isso de terrível. Leva pessoas inteligentes a se juntar a Saddam Hussein por causa de George W. Bush. Detestar Bush pode ser um ato de inteligência, mas se perceber torcendo por Saddam ao ouvir a notícia de que morreram 12 americanos num combate é uma mortificação". Gaspari recorda que, em 1990, quando estourou a Guerra do Golfo, Saddam Hussein transformou em escudos humanos 450 trabalhadores brasileiros que viviam no Iraque. "Deixou-os sair graças a uma costura de 23 dias feita pelo embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, que gramou 45 encontros, inclusive com o chanceler Tarik Aziz".
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Manifestações pela paz acontecem em todos os lugares do mundo e em quase todas as grandes cidades dos Estados Unidos, "para glória da civilização americana", como escreve Gaspari. O desastre está feito. Mas há uma gritaria pela paz que precisa se fazer ouvir. Como uma flor que nasce do pântano e, no caso da guerra, do sangue de seus combatentes, espero que surja do Iraque, dos conflitos todos, um novo mundo, voltado para a paz e a prosperidade dos homens.

O Morungaba, 26 de março de 2003. Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.

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