segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Mercado Municipal de Morungaba tem nome de Eleutério Miguel

A prefeita Maria Cecília Pretti Rossi (PSDB) assinou ato, em dezembro, dando o nome de Eleutério Miguel ao Mercado Municipal de Morungaba. Leia perfil do homenageado pela Prefeitura, pai do responsável pelo O Morungaba, jornalista José Aparecido Miguel:

“PERFIL DE ELEUTÉRIO MIGUEL (1917-1984)

Eleutério Miguel, que nasceu em Morungaba dia 24 de agosto de 1917, e faleceu aos 66 anos, dia 19 de abril de 1984, no vizinho município de Amparo, teve sua história de vida dedicada principalmente ao comércio morungabense, iniciando-a com um pequeno armazém no Bairro do Feital e, depois, até 1960, com matadouro de gado e suínos – além de outras carnes – açougue e fábrica de lingüiças, localizado na atual Avenida Araújo Campos.


Neto dos italianos Carlo Meneghel – nome aportuguesado para Miguel Carlos - e Angela Canale, por parte de pai, Eleutério foi um dos nove filhos de Domingos Miguel e Júlia de Moraes Miguel. 
Domingos Miguel, o Mene, e seus irmãos Luiz, Antonio, Maria, Pedro (Piero) e Ana formaram uma grande família em Morungaba. 


Eleutério Miguel era o mais velho dos filhos de Domingos, que morava no Bairro Buenópolis. Seus oito irmãos: Cizillo (Ceziro), José (Zinho), Antônio (Nico), João, Leonídia, Felício, Osvaldo (Vadico) e Euclides (Crídio) – os quatro últimos ainda vivos (31de outubro de 2004). Felício e Euclides vivem em Morungaba. (Nota da Redação: Felício faleceu no início de 2005 – Atualização para O Morungaba em 14/09/2005)

Eleutério Miguel, que muitos chamavam de “Lutério”, casou-se com Helena Roncada Miguel, que nasceu em Morungaba dia 30 de julho de 1922 e faleceu em Amparo, aos 70 anos, dia 15 de novembro de 1992. Ela  era filha de Luiz Roncada e de Hortência Varago Roncada. Eram chamados assim: Lutério da Helena ou Helena do Lutério. Tiveram quatro filhos: Romildo, Carlos Galvão, Airton e José Aparecido, todos ex-alunos do Grupo Escolar “Antonio Rodrigues da Silva”.

Seu açougue, no final da década de 1950, já tinha um nível próximo de um frigorífico – além de lingüiças, fabricava fiambre e mortadela, por exemplo. Fora do mercado local, atendia outros açougues em Itatiba, Jundiaí e Amparo. Eleutério Miguel, paralelamente, dedicou-se também ao trabalho rural. Em sua propriedade – hoje um loteamento próximo da divisa entre Morungaba e Amparo -, plantou uvas, criou bicho da seda, gado, suínos e frangos. 

Teve tanques de criação de peixes também, que comercializava anualmente na época da Semana Santa (principalmente carpas, curimbatás e tilápias), além de pescas individuais e rotineiras. É tido como um precursor da pesca ecológica e do hoje conhecido sistema “pesque-pague”. Preservava pequenos peixes, devolvendo-os à água, já na década de 1950. 

O casal foi seguramente, em meados de 1958, o primeiro a alugar uma televisão, em Itatiba, para uso em Morungaba. (*) Era um teste de recepção que durava três meses, antes da confirmação de eventual compra. A televisão exigia uma enorme antena, a imagem era preto-e-branco. A novela da época era a histórica “O Direito de Nascer”, em sua primeira versão, produzida pela extinta TV Tupi – a primeira emissora de televisão do país. Era tempo da Copa do Mundo de Futebol, a primeira que o Brasil ganhou, na Suécia. A televisão, então uma curiosidade que atraia parentes, amigos e vizinhos, foi devolvida dentro do prazo estipulado. Tinha muito chiado no som e “chuvisco” na imagem. Foram os primeiros tempos de um produto em lançamento no mercado.

O trabalho de Eleutério Miguel e de Helena Roncada Miguel mereceu destaque em um artigo de jornal de Itatiba dia 12 de setembro de 1956, assinado pela professora Ivony de Camargo Salles, que o casal hospedava periodicamente em sua casa – hoje de outro proprietário, mas ainda existente na Avenida Araújo Campos, 154, esquina de Rua 13 de Maio, de frente para o grupo escolar. Eleutério e Helena moraram na Rua 13 de Maio, no atual número 213, quando vieram do Bairro do Feital. É uma residência agora de propriedade de descendentes da família Miguel. 

O casal cuidava do açougue-frigorífico. Eleutério, por exemplo, tratava de compras de gado e do matadouro; Helena cuidava do balcão do açougue. À época, caçada era comum. Eleutério preservava animais prenhes e filhotes. Criticava caçadas e pescas predatórias. Simples, ele, em suas conversas no comércio, descobriu o sabor das ovas de carpa, uma variante comum e assemelhada do famoso, diferenciado e caro caviar.  A professora Ivony de Camargo Salles - hoje nome de escola pública em Itatiba -, no artigo "Louvação" (Ah! Conceição da Barra Mansa, dos tempos do Império!...) assim narrava em  setembro de 1956 em “O Comércio” ou em “A Tribuna” de Itatiba, publicações já extintas:

"Encontra-se carne fresca no açougue todos os dias e na casa do açougueiro-caçador, se a caça noturna lhe foi propícia, há carne de paca, cotia, codorna e até capivara para o visitante. O leitor, por certo, verá exagero nesta enumeração, mas podemos garantir-lhes como verdade: na casa de Helena e Eleutério até ovas de carpa saboreamos, carpas criadas ali mesmo, alimentadas diariamente com farto sangue de boi. Então, é o “caviar” para os amigos, sem os embaraços da alfândega, o luxo do preço e o perigo do enlatamento. Tudo simples, primário e tão bom!", escreveu a professora.

No artigo, com cópia mantida em arquivo da família, ela elogia Eleutério Miguel e Helena Roncada Miguel: "Desse bondoso casal, a Caixa Escolar recebe carne e ossos com fartura, o que possibilita a distribuição de excelente sopa a centenas de crianças pobres".

Vale recordar que seus próprios filhos e os alunos que quisessem partilhavam da mesma sopa à base de fubá. 

A mudança da família, para Amparo, em 1960, foi uma exigência da época, para quem tinha quatro filhos estudando além do grupo escolar. O “Antonio Rodrigues da Silva” era o único do município então. Eleutério foi,  depois de Morungaba, e até o fim da vida, produtor de carvão no Bairro dos Rosas.  Sua família, mesmo com a mudança, manteve fortes vínculos comerciais e pessoais com Morungaba, onde tem residência e negócios atualmente seu filho José Aparecido Miguel.

Este é o perfil de Eleutério Miguel, comerciante, que representa uma numerosa família que fincou raízes de trabalho e empreendimento em Morungaba, desde o final do século XVIII. Miguel Carlos – nome aportuguesado do patriarca italiano Carlo Meneghel -, avô de Eleutério, casou-se em Morungaba em 13 de setembro de 1890, aos 24 anos, com a também italiana Angela Canale, de 25. De Verona, Itália, Carlo Meneghel, lavrador, chegou ao Brasil, junto com a mãe Anna, e a irmã Marianna, desembarcando do navio Borgogne em Santos (SP), dia 7 de fevereiro de 1889”.


O Morungaba, dezembro de 2004.

(*) Correção: foi o terceiro. O primeiro foi Antonio Miguel Sobrinho, o segundo a família Consolin.

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