segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Opinião: Guerra, medo e esperança - José Aparecido Miguel

Há, em síntese, dois caminhos básicos para o futuro do mundo, depois dos ataques terroristas aos Estados Unidos, dia 11 de setembro. A retaliação liderada pelos Estados Unidos começou domingo, 7 de outubro, com bombardeios no Afeganistão. Lá vive o terrorista Bin Laden, o principal suspeito do atentados, produto do fanatismo que afronta a paz. Se depender dele, "os que vivem na América nunca vão se sentir seguros até que nós tenhamos a Palestina", afirmou.

Há um misto de temor e de esperança com o novo cenário, quando escrevo, dia 8. Agora, ou o mundo parte para o extermínio – talvez dentro de cinco, dez, vinte anos, quem sabe? -, com todas as suas sofisticadas armas, ou parte para uma mudança substancial nas relacões econômicas, sociais e culturais, onde o bem do homem seja o objetivo maior. Os dois caminhos contemplam variantes e atalhos, mas a sociedade que se acha civilizada, as lideranças e elites de países, cidades, bairros e vilas precisam compreender, de vez, que não se pode ser feliz em meio à miséria.

Os ataques terrorristas mataram milhares de pessoas – há mais de 5.000 desaparecidos. Toda morte, uma só morte deve ser chorada, lamentada.

Pretende-se que achemos uma guerra normal. Não! Devemos ter nossas mentes abertas, mesmo condenando veementemente o terrorismo. Nos últimos dias, no Sínodo dos Bispos, em Roma, o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, a quem já entrevistei, mais de uma vez, defendeu o diálogo e a negociação política como únicas iniciativas capazes de evitar a guerra. Foi um discurso importante, que pouco destaque recebeu nos veículos de comunicação. O papa João Paulo II reforçou a tese de Hummes e pregou "a união de cristãos e mulçumanos".

Dia 11 de setembro é uma data que divide a história do mundo. Até nos Estados Unidos – compreensilvemente irados com os bárbaros ataques – há lideranças que já avaliam novos parâmetros de relacionamento entre países e povos, neste mundo de informações instantâneas (para poucos, é verdade).
A sensibilidade da sociedade, porém, é seletiva: o último Relatório sobre Desenvolvimento da ONU (Organização das Nações Unidas) mostra que 11 milhões de crianças morrem por ano em todos os continentes vítimas de falta de atenção e de condições básicas de saúde, segundo artigo recente de Milú Villela, presidente do Comitê Brasileiro do Ano Internacional do Voluntário e do Instituto Itaú Cultural, e de Hélio Mattar, presidente da Fundação Abrinq.

São 30 mil por dia. Cinco World Trade Centers!

108 mil crianças morrem anualmente no Brasil antes de completar o primeiro ano de vida. 18 World Trade Centers por ano. Ações voluntárias de pessoas, empresas, organizações, igrejas desenvolvem um papel especial para mudar essa situação. Não basta apenas a ação do governo.

A Pastoral da Criança, por exemplo, é ajudada por mais de 145 mil voluntários e contribui com cerca de 1 milhão de famílias em 3.277 municípios. Estamos na Semana da Criança. Precisamos de um esforço coletivo contra a miséria, a fome, a ignorância, terreno fértil da revolta, da discriminação e do fanatismo. A paz, com tantas divergências e diferenças, é uma utopia a ser perseguida. Só assim teremos um mundo melhor. Pense nisso!


O Morungaba, 8 de outubro de 2001. Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.

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