segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Opinião - Idade, violência e economia - José Aparecido Miguel

VAI FALTAR FERRO - Parte representativa da elite brasileira precisa tomar vergonha. Em vez de pedir mais Febens - o plural de Fundação Estadual do Bem Estar do Menor -, e mais presídios, deveria ajudar o Brasil a ter um futuro melhor, baseado na educação, na saúde, na habitação. A elite, assim, poderia ajudar seus filhos, netos e bisnetos. No atual quadro de deterioração social do País, a solução, com certeza, não está em prédios murados, condomínios fechados, arame farpado, caco de vidro em muros. A afirmação é simbólica, claro: se nada for feito, com visão de pequeno, médio e longo prazos, especialmente a médio, vai faltar ferro para tanta grade de proteção.

IDADE E VIOLÊNCIA - É chocante a violência que impera principalmente nos grandes centros urbanos. Eu me solidarizo, obviamente, com os familiares da estudante, Liana Friedenbach, de 16 anos, e do seu namorado Felipe Silva Caffé, de 19 anos, que movidos pela juventude, foram acampar no município de Embu-Guaçu, onde acabaram assassinados por um menor e seus cúmplices. Havia um maior também. Daí - em meio à comoção provocada pela tragédia -, querem estabelecer a maioridade aos 16 anos. Não vai resolver. Se você é pai de um jovem de 18 - ano da maioridade -, 20 ou 22, até um pouco mais, certamente sabe que a maturidade de cada um varia muito. E varia muito mais em gente que vive em condições inteiramente precárias. A apresentadora Hebe Camargo, aquela "gracinha" que sempre se alinhou politicamente ao atraso, afirmou que, se entrevistasse o menor, acusado de planejar as mortes de Liana e Felipe, jovens Felipe, mataria o assassino. Não é o papel de uma formadora de opinião.

PERIFERIA E IGREJA - Morreram, infelizmente, dois jovens de classe média alta. Mas saiba, leitor, que certamente neste exato momento, na periferia de uma grande cidade, haverá uma jovem sendo violentada, talvez até no próprio ambiente familiar. Alguma coisa precisa ser feita, é verdade, mas estranha-se que até o respeitável ex-presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Aloísio Lorscheider, saia apoiando a redução da maioridade. Ainda bem que o atual o presidente da CNBB, dom Geraldo Majella Agnelo, disse ser contrário à proposta dele. Melhor seria que a Igreja deixasse de combater o controle da natalidade, que especialmente a classe média católica, com educação e livre arbítrio, já pratica há anos, em nome do planejamento de um futuro melhor para seus filhos. É isso: contra a violência, educação; contra a fome, educação; contra a miséria, educação; contra o atraso, educação, emprego, desenvolvimento, habitação, saúde. O resto, em síntese, é hipocrisia.

ECONOMIA E CRIANÇAS - O ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) atribuiu o crescimento do trabalho infantil no país - de 50% de janeiro a setembro, segundo o IBGE - ao ajuste econômico feito pelo governo Lula, que fez subir o desemprego. Segundo Cristovam Buarque (Educação), na Folha de S. Paulo, Lula está "preocupado, triste e descontente" com a situação.

DESTRUIÇÃO INDUSTRIAL - Do professor da faculdade de economia e política da Universidade de Cambridge, Estados Unidos, o coreano Ha-Joon Chang, 40: o Brasil deveria rejeitar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), pois o país é o único que tende a perder com a implantação de uma zona de livre comércio na região. "Sua indústria seria destruída", afirmou em entrevista. "Se você é El Salvador ou Equador, não tem muito a perder. São países que não têm uma indústria, de qualquer maneira. Mas o Brasil tem muitas potencialidades que podem ser destruídas. Vocês podem ganhar no curto prazo com mais acesso ao mercado agrícola, mas, e a longo prazo?"

CIDADANIA - Está se realizando em Morungaba o recadastramento eleitoral. Faça o seu. É importante; é um documento solicitado constantemente. E você pode votar e escolher quem quiser.

O Morungaba, 20 de novembro de 2003 – Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba".

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