segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Opinião - Ação, reação e candidatos - José Aparecido Miguel

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O’Neill, jogou contra o Brasil, empurrando nossa economia para os bolsos dos especuladores. Na segunda-feira, por exemplo, o dólar saltou 5,5% e a sociedade brasileira vai pagar a conta. Resultado: mais necessidade de empréstimo do Fundo Monetário Internacional, organismo dominado pelos Estados Unidos de O’Neill. Ele pediu que o Brasil, Argentina e Uruguai coloquem em prática "políticas que assegurem que o dinheiro que recebem (do FMI) seja bem aproveitado, e não saia do país para uma conta na Suíça". Fernando Henrique pediu retratação, o governador Geraldo Alckmin condenou, a Confederação Nacional da Indústria repudiou, mas o estrago está feito, fragilizando nosso Brasil (também) num futuro debate da formação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), outro alvo norte-americano.

O colunista da Folha de S. Paulo, Clóvis Rossi, escreveu: "O'Neill não está propriamente em posição de dar aulas sobre corrupção - sendo membro de um governo que tem pelo menos três de suas figuras mais importantes sob suspeita de praticar maracutaias com ações. Em sendo, ademais, de um país que está em pleno surto de "ganância infecciosa", para usar a expressão do presidente do FED (Banco Central dos EUA), Alan Greenspan, não tem autoridade moral para dar lições de bom comportamento a quem quer que seja". O governo norte-americano manifestou confiança no Brasil e nossa diplomacia considerou o mal-estar desfeito. A verificar: O’Neill visitará o País nos próximos dias.

Do mesmo Clóvis Rossi sobre Ciro Gomes e outros presidenciáveis: em artigo, o filósofo Roberto Mangabeira Unger deu comovente lição de humildade a todos os que pretendem governar. A certa altura, diz: "É preciso a cada dia decidir (...), decidir, entretanto, sabendo que nunca sabemos o bastante para decidir sem risco de erro. É uma pena que nenhum dos quatro principais candidatos à Presidência tenha temperamento para seguir tal norma. Nem mesmo Ciro Gomes, o candidato de Mangabeira. Ao contrário, Ciro é campeão em tentar passar a impressão de que jamais erra e de que tudo sabe. E, ao fazê-lo, mente ou desinforma".

Boris Fausto é um analista respeitado. Escreveu um artigo pró-candidato José Serra, destacando sua competência. Por exemplo: "é lamentável que discussões personalistas estejam quase sepultando as realizações do candidato no Ministério da Saúde, onde revelou, como poucos -no caso dos genéricos e do combate à Aids-, muita coragem diante da grande indústria farmacêutica. Afinal, politicamente, se olharmos o conteúdo das alianças, "o quem está com quem", o fato é que Serra é, de longe, o candidato mais distante de oligarcas e cidadãos de comportamento no mínimo suspeito. Basta conferir, mesmo sem citar nomes".
Lula, que continua na frente, abandonou um almoço com a diretoria e editores da mesma Folha, contrariado com duas perguntas de Otávio Frias Filho (sobre se havia se preparado intelectualmente para vir a ser Presidente e a respeito de sua aliança com o PL, considerado linha auxiliar do malufismo). "A reação foi inusitada e desproporcional. Parece que ele não está acostumado a ser questionado e se descontrola quando isso acontece", afirmou Frias.

Garotinho está em queda livre, misturando religião e política. Fica ridículo quando insiste em não responder perguntas de jornalistas, ficando a repetir o tema que quer abordar. Ah..., pesquisas à parte, é muito cedo para se cantar "já ganhou".


O Morungaba, 31 de julho de 2002. Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário