segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Opinião - Radares, câmaras e Marinho - José Aparecido Miguel

Quem tem paciência para ler esta coluna, sabe que sou um defensor de novas tecnologias a serviço do desenvolvimento humano. Sabe também que sou favorável aos radares instalados na Rua Araújo Campos, às vezes com dúvidas sobre o limite imposto - 50 quilômetro por hora, como é; ou 60 quilômetros, como alguns ponderam. É importante que haja limite. Há quem pense diferentemente, mas a Araújo Campos não é uma rodovia. É uma rua - melhor seria avenida - em área claramente urbana. Existiam dois radares; recentemente foram colocados mais dois, justamente nos dias em que se resolveu, dos gabinetes frios de Brasília, que são dispensáveis as placas de alerta de fiscalização eletrônica. Sou contra. As placas têm caráter educativo, sabem muitos especialistas de trânsito. Sem elas, fica evidente que a prioridade é a arrecadação. Entendo que a Prefeitura de Morungaba ganharia em imagem positiva - como uma estância politicamente correta no trato de seus moradores e visitantes -, se colocasse placas bem visíveis, junto ao acesso de perímetro urbano, alertando, por exemplo, "Você está entrando na Rua Araújo Campos. Cuidado: velocidade controlada por radar".

A TECNOLOGIA DO RADAR nos conduz a uma outra, voltada para a segurança do cidadão, as câmaras que Morungaba projeta instalar. Considero um avanço, apóio, mas precisará de um rígido controle para que não se torne instrumento de invasão de privacidade - coisa que a sociedade de nossa cidade pode acompanhar, via Câmara Municipal e lideranças da comunidade. Um amigo dá um exemplo, corriqueiro para quem freqüenta os maiores shoppings centers em Campinas ou São Paulo. O cidadão entra numa loja de alto padrão, a câmara o acompanha. Sai de lá carregado de produtos caros (para quem o vigia, pelo menos). A câmara segue o cidadão até o seu carro, até que deixe o shopping, etc. Pergunta-se: quem fiscaliza o vigia, um informante privilegiado, que a gente nem vê?

VIA SATÉLITE, que foi usado pelos Estados Unidos no Iraque, os produtores de laranja norte-americanos conseguem saber se nossa safra aumentou ou diminuiu pé por pé, segundo O Globo. Acontece a mesma coisa com a soja, etc. Só não se consegue acabar com plantios de maconha e cocaína, situação que ninguém explica. O Brasil, no exemplo dos laranjais, é fraquíssimo nesse ambiente de vigilância comercial, mais um ponto que preocupa dentro das negociações para a formação da Alca-Área de Livre Comércio das Américas.

JÁ HÁ UM CERTO CANSAÇO DO ASSUNTO, eu sei. Roberto Marinho - tão elogiado agora na hora da morte - era, sim, motivo de críticas, inclusive do então líder sindical Lula. Mas foi, sem dúvida, um empreendedor de primeira linha, competente, especialmente na área de Comunicação. Marinho foi, certamente, um dos homens mais poderosos do Brasil nas últimas décadas. Estive com ele uma vez em 1994, quando já demonstrava cansaço, às vésperas de seus 90 anos. Sofria restrições ideológicas pois era um conservador, como é conservador todo dono de um grande veículo de comunicação, principalmente quando se alcança o gigantismo da Rede Globo de Televisão, a já chamada Vênus Platinada. (Deus nos Livre de uma Globo nas mãos de progressistas irresponsáveis.) O brilho atual, na realidade, é ofuscado por uma grave crise econômica que envolve todo o setor. O Grupo Globo, com problemas na área de televisão por assinatura, tem uma enorme dívida, envolvendo inclusive o BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. "É impagável", escreveu o jornalista Paulo Henrique Amorim, diretor do site UOL News e comentarista da Rede Record.

Pensamento linear: Os Estados Unidos e o mundo ocidental lutaram décadas pela derrubada do Muro de Berlim, resultado do nazismo. Os Estados Unidos e o mundo, em 2003, assistem nascer um muro para separar palestinos de Israel.


O Morungaba, 13 de agosto de 2003 – Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.

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