O PT CHEGOU AO GOVERNO. E espalha polêmica e dúvidas, mesmo com a alta popularidade de Lula. O sociólogo Francisco de Oliveira, que participou da elaboração do programa de reforma política de Lula quando candidato, acaba de dizer: "Para falar a verdade, o programa do [José] Serra era melhor do que o do Lula. Mais bem estruturado, mais claro. Talvez por isso ele tenha perdido".
JÁ O PROFESSOR de filosofia da Universidade de São Paulo, Paulo Arantes, diz com todas as palavras que "quando você promete consumo de massa, está prometendo guerra civil". No plano plurianual de Lula (para 2004-2007), afirma-se que se pretende fazer o país crescer a partir do incremento do consumo dos mais pobres. "É um convite ao recrudescimento da violência. Prometem o que não podem entregar", afirmou.
É PRECISO BUSCAR, no fundo da alma da sociedade brasileira, a criatividade capaz de gerar uma mudança de expectativa, de rumo. Há quem ache o Brasil capaz de desenvolver um projeto seu dentro do mundo "globalitário", termo que José Luiz Fiori usa em ensaio escrito para a revista Carta Capital, com o título "O Veto do Império". Nossas escolhas serão extremamente difíceis, complexas. Segundo Fiori, existe um veto a todo e qualquer tipo de projeto nacional autônomo, que posso ameaçar o status quo do sistema imperial articulado, a partir dos estados pós-modernos. Ou seja: não se pode mexer na situação dos países desenvolvidos, ricos. Se Bill Clinton testou o "imperialismo humanitário", seu sucessor, Bush Júnior prefere a guerra preventiva. Uma doutrina complementa a outra, opina Fiori. O norte-americano John J. Mearsheimer preconiza que a melhor maneira para qualquer Estado maximizar suas persperctivas de sobrevivência é tornando-se um país hegemônico em sua região - a preocupação do Brasil passa pela liderança na América Latina, a partir do Mercosul. Mas o escritor cita o exemplo chinês: "Se é do interesse da China ser o "hegemon" em sua região, não é do interesse da América que isso aconteça". Leia-se, por América, Estados Unidos, já incomodados com os sinais de projetos nacionais da Alemanha, da Rússia e do Japão.
CRUAMENTE, SER POBRE INTERESSA A OUTROS. Vale ler o ensaio de José Luiz Fiori. "Há muito que os homens descobriram que o melhor ataque preventivo de um Estado contra outro passa pelo bloqueio ou contenção do desenvolvimento econômico do adversário". Não é à toa que os países ricos esqueceram, há pouco, a proposta de Lula para um projeto mundial contra a fome.
O Morungaba, 12 de junho de 2003 – Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.
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