segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Opinião - Nosso difícil caminho - José Aparecido Miguel

Sou cético em relação ao futuro do desenvolvimento brasileiro. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, uma esperança que precisa dar certo, para não perdermos mais quatro anos, parece engessado pela influência da economia internacional, especialmente dos países ricos, como os Estados Unidos, sobre os nossos frágeis recursos. A economia brasileira está devagar, quase parando. Até na indústria de alimentos, num Brasil carente deles, há queda de produção e, portanto, de consumo. O novo governo, para agradar o insaciável mercado financeiro internacional, ofereceu ao mundo, espontaneamente, um aperto fiscal e monetário ainda maior que o praticado no período de Fernando Henrique Cardoso. O ministro Antônio Palocci Filho (Fazenda) já admitiu mais aperto numa eventual negociação de empréstimo do Banco Mundial. Fica a idéia de que o governo mexe numa ponta na esperança de melhorar a situação e prejudica outro lado de sua administração. Estamos amarrados em várias pontas e dependentes de acordos internacionais. Enquanto se discursa, acenando com uma melhora futura, a partir de 2004, lê-se que o governo de Lula completou cinco meses sem ter usado um único centavo da verba que o Orçamento reserva para investimentos em saneamento, habitação ou organização agrária, segundo a Folha de S. Paulo. Há o problema dos juros, das reformas que o País precisa, da fome que o governo prometeu saciar, do desemprego. Já há vaias, companheiros protestam.

O PT CHEGOU AO GOVERNO. E espalha polêmica e dúvidas, mesmo com a alta popularidade de Lula. O sociólogo Francisco de Oliveira, que participou da elaboração do programa de reforma política de Lula quando candidato, acaba de dizer: "Para falar a verdade, o programa do [José] Serra era melhor do que o do Lula. Mais bem estruturado, mais claro. Talvez por isso ele tenha perdido".

JÁ O PROFESSOR de filosofia da Universidade de São Paulo, Paulo Arantes, diz com todas as palavras que "quando você promete consumo de massa, está prometendo guerra civil". No plano plurianual de Lula (para 2004-2007), afirma-se que se pretende fazer o país crescer a partir do incremento do consumo dos mais pobres. "É um convite ao recrudescimento da violência. Prometem o que não podem entregar", afirmou.

É PRECISO BUSCAR, no fundo da alma da sociedade brasileira, a criatividade capaz de gerar uma mudança de expectativa, de rumo. Há quem ache o Brasil capaz de desenvolver um projeto seu dentro do mundo "globalitário", termo que José Luiz Fiori usa em ensaio escrito para a revista Carta Capital, com o título "O Veto do Império". Nossas escolhas serão extremamente difíceis, complexas. Segundo Fiori, existe um veto a todo e qualquer tipo de projeto nacional autônomo, que posso ameaçar o status quo do sistema imperial articulado, a partir dos estados pós-modernos. Ou seja: não se pode mexer na situação dos países desenvolvidos, ricos. Se Bill Clinton testou o "imperialismo humanitário", seu sucessor, Bush Júnior prefere a guerra preventiva. Uma doutrina complementa a outra, opina Fiori. O norte-americano John J. Mearsheimer preconiza que a melhor maneira para qualquer Estado maximizar suas persperctivas de sobrevivência é tornando-se um país hegemônico em sua região - a preocupação do Brasil passa pela liderança na América Latina, a partir do Mercosul. Mas o escritor cita o exemplo chinês: "Se é do interesse da China ser o "hegemon" em sua região, não é do interesse da América que isso aconteça". Leia-se, por América, Estados Unidos, já incomodados com os sinais de projetos nacionais da Alemanha, da Rússia e do Japão.

CRUAMENTE, SER POBRE INTERESSA A OUTROS. Vale ler o ensaio de José Luiz Fiori. "Há muito que os homens descobriram que o melhor ataque preventivo de um Estado contra outro passa pelo bloqueio ou contenção do desenvolvimento econômico do adversário". Não é à toa que os países ricos esqueceram, há pouco, a proposta de Lula para um projeto mundial contra a fome.

O Morungaba, 12 de junho de 2003 – Publicado também no jornal “Acontece! em Morungaba”.
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