terça-feira, 1 de outubro de 2013

Opinião - O "sim", no último segundo - José Aparecido Miguel - 28/10/2005

Nossa vida é cara, gente! Não, nada de dinheiro. É de valor humano, do que podemos representar na nossa sociedade, para nossos parentes, amigos, vizinhos, amores e desamores. Pela vida. Por isso, no último segundo mudei meu voto no referendo que pediu ao povo brasileiro se queria ou não proibir o comércio de armas e munições, mesmo com a existência do Estatuto do Desarmamento, em si mesmo considerado rigoroso. Defendi o “não” à proibição por entender que o governo queria reduzir sua responsabilidade pela manutenção da segurança pública, afinal um direito do cidadão. E por outros motivos, a exemplo da invasão do Estado no seu velho direito de ter ou não uma arma. Como usá-la, se vai usá-la, é outra história. Defendi o “não” à proibição também pelo fato de o cidadão ter o direito até instintivo de auto-defesa.
Bem, eu sei que arma somente existe para ferir e matar. E, no último segundo, votei pelo “sim” à proibição, compreendendo o voto do pelo “não”, que significou também um protesto contra o mar de lamas que cobre a política brasileira, com “mensalão”, caixa dois, impunidade, etc. Mas votei pelo “sim” mesmo para respeitar minha história de vida, marcada constantemente pela defesa da solução de qualquer conflito pelo diálogo, por uma boa conversa, pela via da paz, o caminho correto para quem tem, como o homem, a felicidade de raciocinar.

A solução dos problemas brasileiros começa no conhecimento, no acesso de todos à ampla educação. Não é dando uns trocados para a população pobre - ação que visa manter seu voto e assim mantê-la.
No Brasil, os eleitores disseram "não" à proibição com 63,94% de votos válidos. Trinta e três milhões de eleitores (36,06%) disseram "sim" ao fim do comércio de armas e munição no país. Dos 122 milhões de eleitores, 21,85% dos eleitores não compareceram aos locais de votação ou justificaram a ausência. Os votos nulos foram 1,68% e os em branco, 1,39%. O total de votos válidos foi de 95.375.824 (78,15%).
Em Morungaba, com 6.525 votos válidos, o “não” recebeu o apoio de 4.359 eleitores e, assim, superou a média brasileira, com 66,80% das opiniões. O “sim” teve 2.166 votos (33,20%), nulos, 102; brancos, 92.
Quem votou "sim" e quem votou "não" deu votos igualmente bons, imagino, como o jornalista Jânio de Freitas, da Folha de S. Paulo. Para ele, o vencedor do referendo foi o Grande Medo. “Esse medo latente, insidioso, que todos nos faz tão temerosos da arma que o alheio possa ter, quanto temerosos de não ter defesa alguma na aflição”.

A jornalista Eliane Cantanhêde, do mesmo jornal, tem outra visão, ao lembrar que o eleitor do "não" acusava os progressistas de cretinos. “Aliou-se sem perceber aos conservadores que não querem o fim da corrupção e da violência policial coisa nenhuma. Querem apenas manter o livre comércio de armas e ampliar o direito de acabar com a vida do bandidinho (ou suspeito) pobre”, escreveu.

São opiniões para a nossa reflexão.

Artigo publicado simultaneamente com a edição mensal do jornal Acontece! em Morungaba.

28 de outubro de 2005.

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