terça-feira, 1 de outubro de 2013

Opinião - Incomodem-se, por favor - José Aparecido Miguel (Março de 2006)

O prefeito Luvaldo Flaibam, dizem, não gostaria que eu escrevesse aqui. Não creio. Afinal, ele tem meu respeito em todos os textos que fiz até aqui, pois tenho elevada consideração pela população que o elegeu. Se de fato não gostasse, também o respeitaria – sou um jornalista democrata com mais de 30 anos de serviços. Tive até status de Secretário de Estado do Governo de São Paulo. Mas já era, né? Hoje, para citar um exemplo, assessoro uma entidade nacional que, apenas em um programa dirigido à área de turismo, tem um orçamento maior do que o anual de Morungaba. Ah!, assessoro também uma empresa que controla dois jornais de circulação nacional. Claro, tenho o maior respeito pelo Acontece!, que a sociedade local deve apoiar, se quiser ter uma alternativa de comunicação com a independência que a realidade de Morungaba permite.

Vamos em frente... Fico cada dia mais indignado com o cenário que o Brasil nos oferecesse, tema maior, que vai me trazer de volta, aqui, à vida dos morungabenses. Na verdade, jornalista incomoda, especialmente se é sério. Tenho até nojo de diversas lideranças políticas, empresariais, de diferentes áreas do Brasil, exceções à regra. Não é à toa.

Texto do médico Miguel Srougi, na Folha de S. Paulo, lembra que o Brasil pagou, em 2005, R$ 157 bilhões de juros da sua dívida. “Cento e cinqüenta e sete bilhões de juros, sem reduzir a nossa dívida e sem atenuar as injustiças, a penúria e a desigualdade no Brasil. (...) O governo federal gastou somente R$ 7 bilhões com a educação e R$ 33 bilhões com a saúde para assistir a todo o povo brasileiro”.

O acinte vai além. O respeitado e competente Clóvis Rossi escreve, no mesmo jornal, que só em janeiro deste ano o governo pagou de de juros R$ 17,9 bilhões. “Em um só mês, mais do que o dobro de tudo o que gastou durante todo o ano passado com programas de transferência de renda para os mais pobres”.
Pois bem! Tenho certeza de que Morungaba poderia dar exemplos positivos na contramão desta violência. Aqui, volto ao assunto, nasceu um projeto de infovia – alguns passos foram dados na administração passada, com o meu apoio e a inteligência do professor Leonardo Mendes, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). 

É uma iniciativa morungabense que já é adotada em diferentes cidades, a exemplo da importante São José do Rio Preto. Revista dedicada aos municípios acaba de mostrar isso, mas a Prefeitura informa que a prioridade é segurança de trânsito e câmaras. É um equívoco se o projeto for limitado. Morungaba precisa investir em tecnologia de educação e de informação – síntese da infovia, que leva a assinatura da Funcamp (Fundação de Desenvolvimento da Unicamp) e da mesma universidade, que é respeitada no Brasil e no exterior. A proposta engloba uma série de ações, trânsito e segurança também. Jornalista incomoda, mas não há futuro sem educação, que conduz a soluções para todas as áreas.

É irritante escrever que, até nas pequenas coisas, empacamos. Há um ano reclamei que a empresa de ônibus escreve Morangaba. Coisa de um telefonema. Nada! Preservar nosso nome é o mínimo que se espera. É preciso que Morungaba se respeite, cobre união e trabalho por educação e desenvolvimento, pergunte para onde vai o dinheiro dos impostos pagos e das verbas recebidas. É preciso questionar nossos vereadores. Exigir zoneamento urbano, saúde, programa consistente de apoio ao turismo, saneamento básico, planejamento... Afinal, quem paga a conta somos nós.

Há quem especule que serei candidato a prefeito. Em princípio, não quero. Minha família e meus amigos desaconselham, mas estou pensando. Certo mesmo é que me empenharei para que Morungaba tenha um novo grupo político, uma alternativa desvinculada suficientemente do quadro atual, que trabalhe de fato pensando no amanhã de nossos filhos, netos, bisnetos...

Sobra um elogio: foi bom o Carnaval de rua que vi na Praça dos Italianos. Gostei. A população merece. (E mais: com uma verba semelhante à do Carnaval, Morungaba avançaria muito no projeto da Infovia Municipal.)

NOTA DA REDAÇÃO - Este artigo foi escrito para a última edição do jornal Acontece!, a pedido da jornalista Sílvia Andrade, que é responsável por ele, ao lado de Márcio Carvalho. Sílvia decidiu não publicá-lo. Leiam seus argumentos, em e-mail enviado dia 28 de fevereiro de 2006: "Seu artigo está muito bom, mas está um tanto quanto político para esta edição do Acontece!. A edição está voltada para as festas do Carnaval e o texto foge um pouco da nossa linha editorial. Espero que você compreenda, apesar de eu ter insistido para que você escrevesse o artigo. Conforme você escreveu, o jornal tem "a independência que a realidade de Morungaba permite". Infelizmente!".


Março de 2006.

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